Sobre a Terapia Transpessoal

É a terapia que mais nos respeita como seres humanos, que a tudo nos permite e perante a qual tudo é válido. Assim mesmo. Soa bem, não soa?

Sem proibições, julgamentos: aceita-nos tal como somos.

Seja raiva, revolta, tristeza, angústia, seja o que  for que sentimos: é para expressar! Deixar sair, sem culpas nem medos: na terapia transpessoal, acompanham-nos e sustentam-nos nesta nova forma de estar e viver. Aprendemos, também nós, a aceitarmo-nos tal como somos.

Sem esforço, passo a passo, de silêncio em silêncio, vamos conhecendo a melhor versão de nós.

À medida que, assertivamente, o terapeuta nos leva a fazer as perguntas-chave, o caminho para expansão da consciência vai-se abrindo.

Os exercícios que nos são propostos ajudam-nos nessa descoberta mas, o que é ainda mais relevante nesta terapia, é a sua flexibilidade e o respeito absoluto pelo ser humano.

O terapeuta transpessoal é o verdadeiro “acompanhante de luxo”. E é de luxo porque, ao contrário do que nós próprios fazemos connosco, nunca faz julgamentos e é um ouvinte de excelência, porque a sua escuta é consciente.

Às vezes, também nos surpreende com o silêncio. Ao princípio, quando não estamos habituados, é estranho. Mas com a continuação começamos a perceber o que dez simples minutos de silêncio podem fazer pela qualidade da nossa existência.

São muitas as ferramentas usadas nesta terapia mas, sem dúvida, a sua base é a prática da atenção plena – observar sem julgar. E é isto que se passa numa sessão de acompanhamento com a Terapia Transpessoal: abertura, confiança, expansão da consciência, aceitação.

É a terapia que veio fazer-nos “virar do avesso”. Vamos aproveitá-la.

Sem Esforço

Esta vontade que me dá de escrever não sei de onde vem mas, claramente, vem de dentro, muito cá de dentro. Tão de dentro que, a maior parte das vezes, não se concretiza no papel: fica-se por ali, no ventre, presa ainda a qualquer coisa que não sei o que é. Mas está no ventre, isso eu já sei: sinto. E isto é um passo de gigante.

É, principalmente, quando medito que me dou conta do desconforto/ansiedade que se revela no abdómen. E, então, respiro e respiro essa ansiedade e acaba por atenuar.

Já não tenho pressa. Sei que um dia se revelará o que ainda teima em se esconder.

Tenho aprendido a não oferecer resistência e a não querer compreender tudo. Tenho aprendido a viver sem esforço.

E acredito, cada vez mais, que só assim faz sentido: só assim nos amamos e respeitamos.

Confiar, co-criar, resignar…

Ontem, a falar com uma amiga, ela questionava sobre este tema: afinal somos nós que fazemos as nossas escolhas ou será que é tudo uma ilusão? Onde fica, no meio da nossa existência, a confiança no Universo que nos dizem ser a nossa atitude mais correcta? Afinal, co-criamos, confiamos no que há ou resignamo-nos?

Ontem, não senti que tivesse sido bem sucedida na contra-argumentação. Mas hoje, ao escrever no meu caderno os meus objectivos para este dia, dei comigo a escrever:

“Hoje faço o que tenho de fazer ao ritmo que o Universo determinar”.

Nós até somos “senhores” de nós mas temos de respeitar o tempo que o Universo nos sugere. Para isso, só temos de praticar a calma para entrar em sintonia com ele, pois é evidente que há, normalmente, uma décalage entre o nosso tempo e o tempo dele.

Precisamos de nos contactar com a nossa essência e entrar nessa frequência: é ela que tem a mesma vibração do Universo. E aí sim, ficará tudo em sintonia perfeita.

Momento de renovar: fazer diferente!

E fazer diferente, para mim, é mostrar-me, sem medos, deixar que a inteligência cardíaca se manifeste, confiar nela e sentir-me segura com essa determinação.

Não se trata de mudar seja o que for: a essência continua a mesma; o que é diferente é o modo como me relaciono com os meus sentimentos e as minhas emoções.

E aqui estou eu, agora, a escrever para quem quiser ler, sem estar incomodada com os comentários da minha mente: “E para que serve o que estás a escrever?”, “Achas que alguém vai ler e interessar-se por isto?”, “Pelo menos, vê se escreves bem…”.

Se estou a escrever é porque me apetece, me liberta e faz-me aceder ao meu ser mais íntimo; se agradar a alguém, tanto melhor, senão, não faz mal: não o faço para obter reconhecimento.

O sentimento do medo da rejeição está aqui implícito – estou, de certa forma, a referir-me a ele – mas a diferença é que lhe dei a volta e mudei o objectivo da escrita: em vez da procura da validação dos outros, foquei-me no prazer que a escrita me proporciona e .

E vou seguindo, renovando: fazendo diferente.

“Na rota das mudanças subtis” ou “O que a Meditação Plena tem feito por mim”

E há aquele dia em que nos damos conta que já há algum tempo não acordamos ansiosos; que, pelo contrário, nos levantamos com uma sensação de tranquilidade e confiança em relação a seja o que for que nos apareça para viver; que paramos para fazer umas quantas respirações antes de tomar uma decisão ou fazer uma escolha; que, ao fazer um agradecimento ou uma oferta, nos questionamos desde onde o estamos a fazer; que nos sentimos bem a proporcionar-nos momentos de silêncio; que passámos a beber o café em presença – até descobrimos que não gostávamos daquele que bebíamos (fazíamo-lo tão depressa que ainda não tínhamos percebido) e tivemos que mudar…

E há aquele dia em que damos um passo atrás mas já não nos importamos com isso: sabemos que faz parte e confiamos que se vão seguir dois ou três para a frente (ou para onde tiver que ser).

Quando nos apercebemos destas subtilezas e temos esta consciência, começamos a acreditar, desde o mais íntimo do nosso ser, que estamos na rota certa para continuar a descobrir o melhor que somos.

Carta ao meu Avô – Uma oferta transpessoal

Olá, Avô Ernesto!

Nunca me passou pela cabeça que um dia havia de te escrever esta carta.

Passei a minha infância (aquilo de que me lembro dela) e a minha adolescência a não gostar de ti: além de não seres aquela pessoa que se idealizava como avô – não eras mesmo nada afectuoso -, havia também a parte da história que me contavam. E, digamos, não abonava muito a teu favor.

Lembro-me de não ter vertido uma lágrima quando partiste: lembro-me da indiferença como sentimento.

Hoje, se aqui estivesses, tudo seria diferente. Se isso fosse possível, ia ter contigo, sentava-me ao pé de ti e pedia-te que me contasses a tua história.

Há pouco tempo e porque andei a “mexer” na árvore genealógica, tive conhecimento de alguns factos que me foram omitidos e que tanta diferença fazem na maneira como, agora, te compreendo.

Adorava poder abraçar-te e dizer-te como te amo.

Lá onde estiveres, recebe esta carta, cheia de carinho e compreensão, como um presente com alma.

Da tua neta

O Salto

O que é que estou aqui a fazer? Devia estar maluca quando pensei que era capaz de saltar daqui de cima: logo eu. Logo eu que acho que o mundo é perigoso e que tenho medo de tudo. Mas o que é verdade é que passei o ano a atravessar “pontes” – porque não atravessar mais esta? Respira fundo, Ana Paula: bora lá! Pensa: não te pode acontecer nada de mal, a água está já ali em baixo, é um “tirinho”.  Isso: respira devagar. Concentra-te. Só tens a ganhar se saltares: sabes isso. Precisas disto. É nisso que tens de te focar: o objectivo que te trouxe até aqui – ganhar confiança, aumentar a auto-estima. Respira devagar, estás aqui e agora: é agora! Não, ainda não… Mas por que é que, nestas alturas, nada do que aprendi para relaxar, resulta?  Eu bem digo que tanto conhecimento, às vezes, só atrapalha… Vamos lá, outra vez: só tens de tentar não pensar em nada: só mesmo em saltar e mergulhar. Pensa só no significado desse salto e desse mergulho. É só isso… Ok. Uns alongamentos: roda o pescoço… os braços… torce para a direita, para a esquerda. Respira… 1. Respira… 2. Respira… 3! Saaaaaalta!!! Yupiiiii!

Já está! Vês? Não custou assim tanto. E a sensação é  fantástica: libertadora! Estou orgulhosa de mim! Agora, a ver se levo mais esta âncora para a vida: mais uma para a colecção. De bloqueio em bloqueio até à vitória final! É só lembrar de utilizar o mesmo método: foco na presença, atenção plena e os fantasmas desaparecem. Será que vai resultar sempre?

Pronto: cá está a minha mente a tentar sabotar! Claro que vai. Então, e se fosse lá acima, outra vez, e voltasse a saltar? Não: agora  vou ficar aqui um bocadinho a curtir o sol. É mesmo só isso ou estarei a resistir? Não sei… neste momento não me apetece sequer pensar em nada. Isto de saltar, mergulhar, ultrapassar, atravessar, deixa-me exausta! Deixa-me exausta porque ainda faço tudo com muito esforço: tenho de deixar fluir. Tenho de confiar mais no Universo. Aceitar o que há, de coração aberto. Isto é muito bonito de dizer, mas para pôr em prática é que é pior. Pois… Ainda tenho muito chão para caminhar até conseguir levar isto com mais calma! E blá blá blá: a minha mente não sossega um bocadinho.

Vamos lá experimentar outra vez a respiração consciente: inspira… expira… 1; inspira… expira… 2; inspira… expira… 3… Boa! Já se fez silêncio. Adoro esta tranquilidade dentro de mim. Sinto um vazio que é, ao mesmo tempo, uma imensidão de paz. Quero ficar aqui para sempre! Eu sei que não posso: a vida não é isto. Mas já é muito bom saber que posso vir aqui quando quiser. Foi das descobertas mais maravilhosas que fiz este ano. Bem, o sol está a ir embora e, se calhar, também já vão sendo horas de ir para casa. Estou cheia de mim, sinto-me capaz de tudo! Parece que renasci. Estou quase a levitar.

Luz e sombra

Madalena estava na sala de espera do dentista com um senhor que não parava de a observar. Com a intenção de amenizar o ambiente, dirigiu-se a ele fazendo conversa sobre o tempo e o dia bonito que fazia lá fora.

O senhor respondeu-lhe amargamente, pois não concordava nada com ela:  ele detestava dias de sol.

Madalena, surpreendida com tal resposta, questionou-o uma vez mais, absolutamente incrédula.

Finalmente, veio a explicação – algo rebuscada – para tal repulsa: tinha a ver com o facto de ele sentir que a luz o escurecia.

Ela – embora começasse a perceber que se estava a meter em assuntos demasiado profundos – não resistiu a confrontá-lo, dizendo-lhe que, provavelmente, ele teria medo da sua própria sombra.

Resoluto, o senhor respondeu-lhe que até podia temer tudo: menos a sua sombra.

Madalena já estava a ficar um bocadinho irritada com a conversa, até porque começava a não ver nenhuma lógica no tema. E, mais uma vez, disparou em direção do senhor: como podia alguém sentir que uma luz o escurecia?

Impenetrável , ele respondeu-lhe muito filosoficamente que, na realidade, tudo podia acontecer porque somos opostos de nós mesmos.

Ora aqui estava uma deixa para ela arrasar – pensou. E decidida, avançou: se tudo podia acontecer, então haveria alturas em que a luz o iluminaria. Estava orgulhosa desta sua conclusão e convencida que lhe tinha pregado uma rasteira mas, ao contrário, e mais uma vez, foi ele que não demorou a responder que ainda não tinha perdido a esperança mas que isso nunca lhe tinha acontecido. Sempre a desarmá-la.

Conclusão da história: ele divertiu-se imenso e ela jurou que, de futuro, nunca mais abriria a boca numa sala de espera do dentista – só mesmo quando se sentasse na cadeira para fazer o tratamento.

Relações Conscientes

Eu faço o que é bom para mim, ele faz o que é bom para ele; se pudermos encontrar-nos  e fazê-lo em conjunto (será maravilhoso), podemos chamar-lhe uma relação saudável e consciente.

Relações conscientes e saudáveis são aquelas em que (pelo menos para mim) as pessoas conseguem manter as suas identidades no caminho que fazem juntas.

Não é fácil fazer esta gestão; requer muita maturidade, muita atenção plena e muita consciência de nós e do outro.

E isto é válido para qualquer relação, seja ela entre um casal, seja entre amigos, seja entre quem quer que seja; o que importa (a única coisa que importa) é o respeito que se sente por nós próprios e pelos outros.

Quando sentimos esse respeito, fica mais fácil entender (digo eu) do que se fala quando se chama de saudável a uma relação.

Muita gente confunde sentimentos e acha que gostar do outro é fazer aquilo que ele quer que façamos ou vice-versa; não, não é: isso é viver-se uma vida que não é a nossa .

Vamos ver, então, se ficou compreendida esta noção do que são relações saudáveis e conscientes: se é bom para mim, quero; se é bom para ti, queres; mas, só se for bom para os dois, é que podemos viver isso, juntos (senão, alguém vai ficar penalizado).

Adição e Terapia Transpessoal

Há 3 meses que Carlos não saía de casa: caíra numa depressão profunda depois da partida do amor da sua vida. Naquele dia – particularmente brilhante – parado em  frente à janela do seu quarto, tomou, finalmente uma decisão: tinha de sair de casa e começar a enfrentar a vida com outro ânimo. Arranjou-se como se fosse encontrar com a sua amada, preparou o pequeno almoço, meteu-o numa cesta e foi para junto do mar, onde permaneceu toda a manhã – a saborear e a contemplar.

Na verdade, o que o havia motivado para esta suposta reacção não foi, propriamente, um acto de consciência do seu mal: Carlos tinha descoberto o seu bálsamo num charro que encontrou numa gaveta, no quarto do irmão.

Do charro à cocaína foi um instante que se passou na sua vida. Quando a família  (que pensava que Carlos tinha, finalmente, feito o luto da morte da namorada) se apercebeu do que estava a acontecer, já era tarde. E, como se repete em quase todas estas histórias, Carlos entrou em negação. A seguir, apanhado em flagrante pelo irmão, lá admitiu a situação mas que estava tudo controlado. Foi difícil assumir o problema com que se debatia. Foi já num estado deplorável que aceitou ir para um centro de recuperação.

Aí passou os seis meses seguintes. Quando saíu falou do bem estar-estar que sentia, do sentido que lhe fez a desintoxicação física, mas também partilhou que não gostou do fundamentalismo das reuniões e das sessões com o psicólogo. Acabou mesmo por desistir delas.

Foi quando a família se mobilizou para encontrar uma alternativa para a sua orientação. Tomaram conhecimento, então, de uma terapia muito eficaz, entre outras coisas, no acompanhamento de pessoas com adição: a Terapia Transpessoal.

Foi a solução: Carlos não parece o mesmo. Com esta terapia, aprendeu a conhecer-se melhor, a gostar de estar consigo próprio, a lidar com as perdas e os lutos, a aceitar as suas sombras e, sobretudo, a abraçar com amor o que o Universo lhe dá.